Imagem do Mês: Olhar de Ueslei Marcelino sobre as enchentes no Maranhão é imagem de janeiro

“Quando você se coloca no lugar do outro, você enxerga um ângulo diferente.”, conta Ueslei Marcelino, que seguiu essa regra e expôs um ângulo empático e sensível na imagem que foi escolhida como foto do mês de janeiro da Arfoc-SP.

A fotografia que mostra o abraço entre mãe e filha com água até a cintura foi clicada pelo fotojornalista após a cheia do Rio Tocantins, em Imperatriz (MA). A enchente deixou centenas de desabrigados. Entre eles, Dona Ilzete Rodrigues, que recebe o abraço da filha, Joelma, registrado por Ueslei.

Após receber um vídeo de uma amiga no Maranhão e perceber a gravidade da situação das enchentes no local, o fotojornalista vendeu a pauta para a editora da Reuters, agência em que trabalha, e viajou até o estado.

“Cheguei lá e não tinha condições de andar porque a água estava muito alta. Aí eu tive que arrumar um transporte.”, conta Ueslei, que conheceu um morador que topou apresentar o local para o fotógrafo, a bordo de uma canoa emprestada. “A gente foi navegando pelas ruas e já estava tudo muito deserto. As pessoas saíram das casas porque não tinham condições de ficar lá e a água continuava subindo. ”

O passeio levou Ueslei até uma família que continuava na casa. E o fato chamou atenção do fotógrafo. “Eu acho que nessa hora se você precisa ser você como fotojornalista você tem que viver o que as pessoas vivem para mostrar empatia. Nesse momento as coisas se confundem, né? O seu papel como jornalista e você pessoa. ”, lembra ele

Foto: Ueslei Marcelino

O fotógrafo conta que desceu da canoa e entrou na água que chegava na altura da cintura para se apresentar e oferecer ajuda aos moradores, ainda resistentes ao profissional e envergonhados com a situação. A insistência e aproximação cuidadosa, no entanto, fez a resistência de Dona Ilzete dar lugar à autorização para registrar aquela realidade.

“Ela me contou que eles estavam nessa situação desde o dia 25 ou 26 de dezembro. A água começou a subir, os vizinhos começaram a sair, mas ela não tinha para onde ir, então decidiu ficar e ia subindo os móveis que tinha na casa, conforme a água ia subindo”, relata Ueslei.

A experiência é descrita pelo fotógrafo como uma troca. Como tinham perdido os mantimentos com a enchente, Ueslei comprou pães e marmitas para comerem e passou o do dia na casa alagada e conhecer a história da família.

As conversas e intimidades que se seguiram no ambiente ajudaram o fotógrafo a conseguir não apenas a naturalidade que queria nas fotografias, como a emoção das moradoras no momento exato do registro escolhido como imagem do mês.

“A filha se aproxima da mãe e percebe que ela estava sensibilizada. A filha abraça ela e solta uns elogios: ‘mãe, a senhora é a pessoa mais forte que eu já conheci na minha vida’”. […] Elas se abraçam, choram e eu e eu pego a minha câmera”, relembra Ueslei do momento registrado com a calma e o respeito necessários.

Para o autor da imagem, a audiência das grandes agências é importante para o registro da história e acesso à informação, além de atingir autoridades públicas ou pessoas que podem fazer algo para reverter situações marcadas pelas mudanças climáticas, que ficam evidentes em acontecimentos como esse.

“A gente, como imprensa, tem uma responsabilidade de mostrar o que está acontecendo no planeta. Primeiro para informar as pessoas, segundo para consciência de fazer as pessoas entenderem que existe uma necessidade de mudar comportamentos”, diz.

Por Bruna Nascimento

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