Imagem do Mês: Dor pelo racismo e pedido por justiça registrados por Suamy Beydoun marcam foto do mês de fevereiro

Uma fotografia pode ter o poder de carregar e expor uma história completa num misto de sentimentos como dor e reinvindicações por respeito com todo um povo. Esse foi o caso da foto do mês de fevereiro da ARFOC-SP. Mas como uma foto assim nasce?

Para o autor da imagem, Suamy Beydoun, a fotografia começa no sentimento de que tem que ser útil e colaborar. “Não estou querendo atrapalhar, polemizar. Não estou querendo que minha foto seja publicada por ser publicada, eu quero contribuir. E aí eu saio de casa com esse pensamento.”, conta ele.
E foi com esse pensamento que o fotojornalista chegou até o vão livre do Masp, em São Paulo no dia 5 de fevereiro. No local, o profissional faria a cobertura do ato que reuniu manifestantes para cobrar justiça pela morte de Moïse Kabagambe, jovem congolês brutalmente assassinado no Rio de Janeiro dias antes da manifestação.

“Pensei: ‘É importante ir pelo peso que tem a pauta. Por tudo que aconteceu com ele, por tudo que ele sofreu’”, lembra Suamy sobre o caso amplamente divulgado pela mídia e que revoltou o país.

O fotojornalista conta que quando chegou no local da pauta, a movimentação ainda estava tímida, então aproveitou para observar e começou a clicar quando se sentiu mais à vontade. “Para ser sincero, eu nunca sei o que esperar, nunca sei o que eu vou ver na pauta. Enfim, eu vou preparado a câmera e vou deixando a pauta ganhar corpo, ganhar formato”, explica ele.

O ato reuniu pessoas da comunidade africana moradores de São Paulo, movimentos negros, pessoas de religiões de matrizes africanas e de outras religiões.

Foto: Suamy Beydoun

Em meio a emoção de revolta e pedidos de justiças, o fotojornalista buscava imagens que simbolizavam a falta física de Moïse e o motivo do protesto. “O desafio sempre é buscar uma composição forte. Não clicar por clicar. Não fazer a foto pela foto, mas uma foto forte, que dê realmente um conteúdo. ”, diz Suamy.

 E a composição desejada veio: Um jovem, aparentemente com idade aproximada da de Moïse, gritando emocionado palavras de revolta com um sotaque forte, um cartaz com a fotografia de Moïse focada em segundo plano e um punho cerrado ao fundo são elementos que compõem a imagem eleita como foto do mês.

“Queria aproveitar toda aquela energia que ele estava colocando ali, toda aquela emoção que estava colocando para fora. E realmente queria compor com a imagem do Moïse. Não foi fácil porque lógico que você nunca vai interferir na imagem, você tem que pegar o momento certo. ”
A foto final, no entanto, foi resultado de uma construção que durou mais de 10 cliques e algumas mudanças de posição até chegar no resultado planejado.

“O que eu consegui ali me satisfez, os ingredientes de uma foto que mostra realmente uma revolta, uma força e um personagem que não está fisicamente presente, mas tem a simbologia dele. Foi mais ou menos o que eu pretendi com a imagem”, conta o fotojornalista.

O autor da imagem do mês reflete que em casos de imagens de alto impacto desde casos como esse até outras situações atuais como a Guerra entre Rússia e Ucrânia, é necessário, para o profissional, o desafio de fazer uma cobertura que não seja ofensiva nem invasiva e por isso, ele busca manter um distanciamento respeitoso.

“É uma forma que eu digo: olha, eu estou aqui como amigo, eu não estou aqui para fazer sensacionalismo com a sua imagem. Estou aqui para te respeitar, para tentar compreender tua dor e expor de uma forma respeitosa para que se colabore na hora de fazer justiça pelo que aconteceu.”, conclui o autor da foto.

Por Bruna Nascimento

 

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