Repórter cinematográfico Abiatar relata tensão sobre desabamento do prédio Wilson Paes de Almeida

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 “Vi tudo aquilo com o coração disparado. Mas não deixei de gravar um instante”

Por Denilson Oliveira

Há pouco mais de um mês, Abiatar Arruda, cinegrafista da TV Globo, registrava um dos momentos mais marcantes de sua carreira: o incêndio e a queda do edifício Wilson Paes de Almeida, no centro de São Paulo.

Era quase final do plantão de feriado. A rotina desses dias em redações, quando as equipes se revezam, corria normalmente. Logo no início da madrugada, o repórter cinematográfico da TV Globo Abiatar Arruda, de 55 anos, dirigiu-se a um hospital da zona leste da capital para gravar uma matéria sobre atendimento a pacientes no local. Pouco depois da 1h da manhã, ele e sua equipe receberam um chamado da redação.

“Era a chefia de reportagem avisando que havia um incêndio na região do Largo do Paissandu, sem vítimas, mas com 20 viaturas. De cara pensei: deve ter alguma coisa errada”, lembra.

Quando chegou ao local, acompanhado do repórter Guilherme Pimentel, Arruda se deparou com uma cena arrepiante. O edifício, um dos ícones da arquitetura paulistana e antiga sede da Polícia Federal na cidade São Paulo, estava completamente tomado pelas chamas. “Era uma imagem forte, mas montei o equipamento e comecei a gravar. Não fazia ideia do que vinha pela frente”.

Enquanto registrava as primeiras cenas, o cinegrafista ainda pediu para o repórter que o acompanhava tentasse encontrar outro lugar onde fosse possível registrar o incêndio de um ângulo melhor. “O Guilherme conseguiu autorização para subirmos num edifício, mas era a três quadras dali. Se acontecesse algo eu poderia perder enquanto me deslocava. Ainda me aproximei do local onde uma equipe de outra emissora estava, mas acabei voltando para minha posição inicial, na Avenida Rio Branco, próximo ao cordão de isolamento feito pelos bombeiros”.

Nesse instante, o cinegrafista percebeu que as pessoas gritaram quando um bombeiro apareceu no prédio ao lado do incêndio e conversava com alguém preso entre as chamas. “Consegui achar o oficial na imagem, mas só vi o rapaz quando ele se aproximou do parapeito”, diz.

Durante o tempo que ficou gravando a tentativa de resgate, cerca de 12 minutos, Arruda só pensava em uma coisa: “o bombeiro vai salvar o rapaz”. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Em questão de segundos, o cinegrafista registrou uma das imagens mais impressionantes de sua carreira. Nesse instante, o edifício em chamas veio abaixo, levando junto Ricardo Galvão, de 39 anos e levantando uma imensa cortina de fogo.

“Vi tudo aquilo com o coração disparado. Mas não me desconcentrei em meu trabalho e não deixei de gravar um instante. Quando terminei de fazer aquele registro, o Guilherme ainda comentou comigo se eu tinha noção de que aquela imagem iria correr o mundo”, lembra. Dito e feito: em menos de 90 minutos, a cena já havia viralizado nas redes sociais e recebia comentários de países do outro lado do oceano, como Espanha e Inglaterra.

Naquela manhã, o cinegrafista ainda trabalhou até às 9h. E um detalhe não sai de sua lembrança: “Depois do desabamento, aos poucos formou-se um silêncio no local que incomodava. Todos queriam saber se havia sobreviventes e os torciam pelo trabalho dos bombeiros. Eu já havia feito tantas matérias naquele edifício, além de várias coletivas de imprensa. Nunca imaginei que veria ele ruir na minha frente”. Arruda ainda voltou ao local nos quatro dias seguintes ao incêndio.

A queda do edifício Wilson Paes de Almeida foi mais um momento importante na carreira do experiente cinegrafista. Com 40 anos de profissão, Arruda já esteve presentes em outras importantes coberturas jornalísticas. Quando ainda era assistente de câmara, aos 21 anos, viu de perto o incêndio da Vila Socó, em Cubatão, que deixou 93 mortos após a explosão de um duto da Petrobrás em 1984. Já como cinegrafista, acompanhou casos emblemáticos como o assassinato do casal Richthofen, a morte de Isabella Nardoni, a máfia dos fiscais do INSS, entre outros.

Em seu currículo, ele ainda acumula prêmios como Tim Lopes, Líbero Badaró e TCE-RS de Jornalismo, pela cobertura dos casos de pedofilia e exploração sexual infantil na cidade de Coari, no Amazonas, feita em 2014. As reportagens ainda renderam uma menção honrosa por parte da Fundação Gabriel Garcia Marques para o Novo Jornalismo numa das principais premiações de imprensa da América Latina. Em 2016, uma série sobre imóveis para o Jornal da Globo, rendeu a Arruda o prêmio Abecip de Jornalismo.

 

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Abiatar Arruda (esquerda)  junto com Marçal Araujo da unidade portátil de jornalismo (centro) e o repórtet Guilherme Pimentel (direita)
 

 

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