Imagem do mês ARFOC-SP: Trabalho de Yan Boechat é eleito por unanimidade
O repórter Yan Boechat passou cerca de 40 dias em Jerusalém Oriental cobrindo o conflito entre Israel e Hamas. Entre os registros feitos por ele está a fotografia eleita imagem do mês de outubro da ARFOC-SP. Essa foi a primeira foto eleita por unanimidade entre os diretores da ARFOC-SP votantes.
A imagem foi registrada no campo de refugiados de Qalandia, na Cisjordânia, e mostra o funeral de um jovem palestino, Ahmad Ghaleb, de apenas 16 anos.
“Ele foi morto pelas forças israelenses em uma das quase diárias incursões que as forças realizam na Cisjordânia desde o início da guerra com o Hamas. As incursões ocorrem em geral em campos de refugiados, onde combatentes palestinos das diversas organizações armadas se concentram”, explica o autor da imagem.
“Familiares disseram que Ghaleb não era um combatente, mas apenas um jovem palestino que, como tantos outros, atira pedras nas forças israelenses durante essas incursões”, completa.
Yan conta ainda que, apesar das críticas e da desconfiança com a imprensa ocidental, os palestinos são extremamente calorosos, receptivos e nunca vivenciou episódios em que impedissem o trabalho da imprensa em situações como essas, nem mesmo quando homens armados estão nas ruas.
Profissional premiado e com vasta experiência na cobertura de grandes confrontos internacionais, Yan Boechat já teve outro trabalho eleito como imagem do mês da ARFOC-SP em março de 2022, quando fotografou a guerra entre Rússia e Ucrânia.
O repórter conta que este é um conflito com uma dinâmica diferente e com desproporcionalidade de forças. Ele não esteve em Gaza desta vez para concentrar a atuação na Cisjordânia, território ocupado pelas forças israelenses de maneira ilegal, de acordo com as leis internacionais, a Convenção de Genebra e a Resolução 2334 das Nações Unidas. Mais de 200 palestinos foram mortos desde o início do confronto.
“Dito isso, há muito mais semelhanças numa cobertura de segurança pública brasileira em áreas dominadas pelo tráfico no Brasil do que uma guerra em si. Nos dois casos há uma desproporcionalidade de força e um sistema que determina que o Império da Lei vale apenas para um grupo de cidadãos que dividem um mesmo espaço físico”, compara o profissional.
“As incursões Israelenses nos campos, com muitas vezes mais de uma dezena de mortes, lembra muito as incursões das polícias brasileiras nas favelas cariocas ou paulistas. Em geral há muitos mortos, poucos feridos e é bastante raro que a força estatal tenha baixas”, completa.
E seja em conflitos nacionais, ou internacionais que estamparão os livros de história, o fotojornalismo tem o importante papel de ir a campo, não apenas para registrar e informar, como também de jogar luz para os acontecimentos e evocar debates e reflexões críticas.
“Eu acho que fotojornalismo segue tão importante quanto quando Mathew Brady foi com seus amigos fotógrafos registrar a Guerra Civil americana nos campos de batalha há uns 170 anos. Por mais mudanças tecnológicas que surjam, nada supera o fato de um profissional dotado de valores éticos que embasam a profissão estar ali e assistir – e registrar – com seus olhos o desenrolar da história”, afirma Boechat.
“Não importa se é em Guarulhos, em Nova Iguaçu, na Palestina, na Ucrânia. Jornalista só consegue contar história quando vai até lá, fala com as pessoas, sente o cheiro das coisas, vê os detalhes do que rodeia o assunto”, diz.
Texto: Bruna Nascimento @brunalanascimento