Imagem do mês ARFOC-SP: Despedida de Zé Celso é eternizada em registro sensível de Werther Santana

Na noite de 7 de julho, uma multidão de famosos, fãs, familiares e amigos do diretor, dramaturgo e diretor Zé Celso se reuniram no teatro Oficina, fundado por ele, para se despedir do artista, morto aos 86 anos, devido a um incêndio no apartamento onde morava.

O velório seguiu madrugada adentro, com muitas lágrimas, mas também música, aplausos e clima de celebração à vida do grande ator e ao teatro brasileiro. Na manhã do dia seguinte, Werther Santana chegou para fotografar o momento. O olhar do fotojornalista resultou em uma imagem justa para quem dedicou a vida fazendo arte.

“Cheguei lá 6h da manhã, ainda estava muito escuro. Entrei para o velório e estava toda aquela canção, cantoria. Teve um momento que os familiares, as pessoas mais próximas do Zé Celso tiraram o pessoal que estava dentro do teatro. Acho que eles queriam um pouquinho mais de tranquilidade”, relembra Werther, que aproveitou o momento do teatro mais vazio para clicar a fotografia eleita imagem do mês da ARFOC-SP.

“O pessoal contou que quando tinha espetáculo do Zé Celso ele interagia com o pessoal que estava ali próximo. Eu subi alguns andares, fiquei bem em cima. Quando começou a amanhecer eu já vi aquela luz de amanhecer. Aquele amarelão, aquela luz bonita para fotografar”, explica.

Foto: Werther Santana

O profissional revela que embora tenha dado sorte de presenciar o lindo amanhecer, o resultado foi planejado antes, com intenção de buscar uma imagem capaz de transmitir os sentimentos certos, refletir o que está acontecendo e impactar os espectadores. “A gente já sai de casa para a pauta pensando em buscar algo diferente”, diz.

“Era como se o céu estivesse se abrindo para o cara. Um cara que foi muito iluminado aqui na terra”, reflete Werther sobre a imagem.

E se tem uma coisa que une fotógrafos de atores é usar a luz como instrumento do trabalho. Após uma vida marcada pelas luzes dos palcos, capazes de ambientar as cenas e concentrar a atenção da plateia sobre o autor, parecia até que Zé Celso teve uma iluminação preparada especialmente para o ato final. E Werther Santana, como um bom fotógrafo, não deixou esse detalhe passar despercebido.

“Eu gosto muito desse lance, daquela foto poética, sabe? E isso não só em velório, não só em desastre, mas em um retrato que você vai fazer, uma pauta de buraco de rua. Então assim, eu tento sempre trazer algo diferente, algo que diferencie minha foto”, diz Werther.

O fotojornalista conta ainda que o trabalho foi muito elogiado, desde a redação do Estadão, onde trabalha, até por conhecidos que não entendem de fotografia ou acompanham o jornal com frequência. Para ele, o reconhecimento traz ânimo para seguir em frente.

“Você precisa ter um gás para fotografar todo dia porque está difícil hoje, são poucas viagens, são pautas mais pontuais então tem que ter um ânimo para acordar todo dia de manhã e falar assim: ‘hoje eu vou fazer uma grande foto’”, afirma o autor da imagem do mês.

Texto: Bruna Nascimento

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