Imagem do Mês : ‘TBT’ com crítica social de Karime Xavier é trabalho eleito de março

“O ser humano não deu certo”. É essa a sensação que Karime Xavier diz sentir ao relembrar de uma pauta realizada há mais de 5 anos sobre trabalho análogo a escravidão. Em março, as fotos foram republicadas e eleitas como imagem do mês da ARFOC-SP.

Na onda de “TBT” do Instagram, as fotografias foram postadas após outro caso de trabalho análogo a escravidão vir a tona. Recentemente, mais de 200 trabalhadores de vinhedos foram resgatados na cidade de Bento Gonçalves sob condições degradantes.

“De novo esse mesmo tema. É recorrente, é impressionante. Tenho medo de que em dois mil, e sei lá, duzentos e quinze, a gente esteja falando desse tema”, diz a autora da imagem do mês.

O trabalho realizado por Karime em novembro de 2017 acompanhou a denúncia de trabalho análogo à escravidão em quatro fazendas de canaviais no Sul da Bahia. A cobertura durou cerca de quatro dias. Devido à retrospecto de mortes de auditores em casos de diligências como essa, a reportagem foi acompanhada pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), Ministério Público e Secretaria da Justiça do estado da Bahia.

Foto: Karime Xavier

Embora a medida preserve a integridade física dos profissionais, Karime lembra que testemunhar, por si só, também é brutal.

“Foi de uma violência, foi de um: ‘puxa vida, isso existe mesmo. E eu estou vendo, presenciando e estou também documentando, relatando e vou mostrar que isso existe'”, descreve ela.

E, por mais chocante que as imagens sejam, Karime dispara: “Ao vivo é pior. Acho que a foto consegue mostrar um pouco daquele sol, da aridez, desse descaso com o ser humano, mas ao vivo você vê coisa pior.”

Entre as cenas relatadas, a profissional lembra de uma mulher que precisou dividir a pouca comida com um homem, após a comida dele estragar.

Apesar das condições precárias de trabalho, não foi configurado o trabalho analogo à escravidão em nenhuma das quatro fazendas retratadas. 75% das fiscalizações contra trabalho escravo no país não identificam crime, diz o título da matéria da repórter Joana Cunha, que conta com o trabalho fotográfico de Karime.

“Então precisa mais. Mas o que é esse mais?”, questiona a fotógrafa, que ressalta a importância do trabalho da imprensa em expor situações como essa.

“É importante na vida do fotógrafo isso. Traz pensares, questões éticas, políticas, sociais, toda aquela coisa e poder mostrar para as pessoas. Porque falar é uma coisa, mas ver aquilo impresso e ler o relato da repórter é outro. Então é necessário e a gente precisa mostrar isso”, diz ela.

Mas se o trabalho eleito como imagem do mês nos ajuda a enxergar uma situação lamentável que se repete, e nos deixa a sensação de que “o ser humano deu errado”, os 18 anos de trabalho da retratista e ensaísta na Folha de São Paulo também exibe imagens positivas, que ela chama de “bálsamos”. 

Alguns exemplos são retratos de pessoas que estão fazendo a diferença com propostas novas e pautas sobre crianças, que trazem um brilho novo e a esperança de que o ser humano também pode dar certo, afinal.

Texto: Bruna Nascimento

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