Imagem do Mês: Após acidente, Miguel Schincariol volta a ativa e é autor da foto de outubro

No último dia 30 de outubro, o país conheceu o novo presidente. Com 60,3 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito pela terceira vez e, nesta eleição, se tornou o presidente mais votado da história do país. A diferença foi de pouco mais de 2 milhões de votos do candidato derrotado, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

A vitória da eleição polarizada terminou em festa na Avenida Paulista, em São Paulo. Foi neste cenário que foi registrada a foto que venceria uma outra importante eleição: a de imagem do mês de outubro da ARFOC-SP. Miguel Schincariol é o autor da grande imagem, que eterniza a comemoração dos apoiadores do presidente eleito.

Do alto de um prédio, os olhos e lentes do fotojornalista testemunharam atentamente a Avenida Paulista cheia. Sinalizadores vermelhos e uma bandeira do Brasil estendida deram um toque final na imagem.

”O Lula falou e uma hora acendeu um pouquinho de sinalizador ali e alguém balançou a bandeira do brasil. Aí eu falei: ‘Pronto’”, relembra o autor da imagem do mês. Ele conta, ainda, que apesar de ter planejado retratar o mar vermelho que invadiu a Avenida inteira, a bandeira do Brasil na imagem foi um toque do acaso. “Meio que aconteceu. Vi, fiz e saiu.”, diz.

Foto: Miguel Schincariol

E se as coberturas de campanhas políticas e eleições já é uma pauta intensa para jornalistas, repórteres fotográficos e cinematográficos, para Miguel Schincariol a intensidade foi ainda maior. Isso porque foi a pauta que marcou o retorno dele ao trabalho, depois de um grave acidente.

“A cobertura em si foi meio que uma volta ao trabalho. Ficar parado e voltar correndo. Literalmente não correndo, mas correndo.”, explica o profissional.

Uma linha cortante de pipa presa na roda de um carro atingiu as duas pernas de Miguel Schincariol enquanto ele passeava com o cachorro. O acidente resultou em ferimentos graves que romperam os tendões e estruturas das pernas, 3 cirurgias,  várias complicações, fisioterapia, acompanhamento médico e 9 meses afastado do trabalho.

Uma semana após a liberação médica, o profissional fotografou uma partida da Libertadores, em um processo de reaprender, observar e cuidar do corpo e mente no retorno. Outras duas ou três partidas de futebol vieram a seguir.

“Logo em seguida, começou a campanha [eleitoral]. E depois da campanha eu não parei mais.”, conta ele, que voltou à ativa trabalhando quase 24 horas com eleição.

“Dos 3 meses que voltei, foram 3 meses fazendo campanha eleitoral. Andando devagar, fazendo o melhor do jeito que dá. Não dava para forçar muito, mas fui atrás”, conta ele sobre o novo ritmo um pouco diferente da correria habitual de antes do acidente. “Agora um pouco mais devagar, mas a imagem a gente tem que fazer, procurar o melhor lugar, o melhor jeito de fazer. E sai a imagem. Tem que sair.”

“É outro jeito agora, não é mais sair correndo atrás da foto, é esperar a foto.”, conta o profissional, que já é freelancer há quase 20 anos trabalhando para vários veículos, e agora volta à ativa.

E se um acidente não foi capaz de parar o autor da imagem do mês, as críticas ou os desafios de trabalhar em uma eleição polarizada muito menos. Para isso, ele tem respostas claras e diretas: “A gente tem que buscar a imagem, trazer o resultado e contar a história do que foi a eleição, Não é o [candidato] A, B, ou C” diz.

“Vou fazer a imagem que vier alí, seja ela boa, seja ela ruim. É Eleição? É mostrar o candidato fazendo a campanha dele? Vou fazer. Se vai render, se não vai render, no final a imagem está ali, vai contar a história do que foi aquele dia e pronto. Se vai ter repercussão boa ou repercussão ruim não é problema meu. Eu estou lá e vou apertar o botão sempre”, completa ele. “Fotojornalismo é isso, é mostrar alí e pronto, goste ou não goste.”, conclui.

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