Imagem do Mês: Fome retratada por Reinaldo Canato é imagem escolhida do mês de outubro
“Eu vi que de longe, aquela imagem parecia uma devastação. Fim de feira, tudo no chão, barracas desmontadas. De repente, eu vi uma senhora lá no fundo, assim, aos poucos pegando coisas no chão. Aí eu me posicionei. ”, conta o fotojornalista Reinaldo Canato ao narrar a história da foto que foi escolhida como a foto do mês de outubro da Arfoc-SP.
Pautado por um especial da UOL sobre fome, a jornada do profissional em busca da foto começou na percepção e registro de placas de restaurantes na rua e terminou na xepa de uma feira em São Mateus, zona Leste de São Paulo, com cenas de pessoas pegando peixes, frutas e legumes que sobravam.
“Minha abordagem foi a seguinte: De fora para dentro. Estava com uma lente 35mm que é a que eu mais uso, eu via a cena, fazia [plano] aberto e ia aproximando”, conta ele. A situação desumana fazia com que algumas pessoas se incomodassem e pediam para não serem mostradas, outras, seguiam em busca do alimento sem se importar com a presença do fotógrafo.
Foi quando achou que a pauta já tinha rendido, que a cena publicada no Instagram da Arfoc-SP e escolhida como a foto do mês aconteceu. Ao se posicionar à espera da senhora que vinha na imagem, já com luz e ângulo ajustados, um cachorro invadiu o enquadramento. Para o fotógrafo, o detalhe deixou a foto mais impactante.
“É um ser humano que está lá catando restos e um cachorro que está na mesma posição que ela, fazendo a mesma coisa, fuçando o lixo. O ser humano se igualando a um animal para sobreviver”, diz.
Canato conta que em fotos de cenas como essa, é necessário se colocar no lugar da pessoa e sempre tomar cuidado com a abordagem, ter respeito e se ambientar, deixando o ambiente te apresentar as imagens e as pessoas perceberem que você está presente.
Com todos esses cuidados, a foto carrega não apenas o momento exato do clique, mas toda a história da vida daquela senhora e serve como espelho de que poderia ser ele próprio ou qualquer um nessa situação, diante do vergonhoso cenário de desemprego, fome e o conjunto de fatores que leva aquela cena a acontecer no país.
“Quando eu vejo a foto, plasticamente, eu gosto, mas da cena eu não gosto. É uma cena que eu não gostaria de ter visto e ter feito, não tenho orgulho, é muito triste, fico bem chateado e muita gente se incomoda de ver também. Outros nem tanto. Esse é o problema”, conclui.
Texto: Bruna Nascimento