O fotógrafo Victor Moriyama ministrou oficina com foco nas mudanças climáticas, e apresentou seu trabalho de uma década de Amazônia
A arte de contar histórias. Esse foi o tema do encontro promovido pela World Press Photo em parceria com a Caixa Cultural, que abriga a exposição anual de fotojornalismo, onde o documentarista não só mostrou o passo a passo para a construção de uma narrativa coerente, mas também parte da sua produção durante todo esse período. Seu acervo, com 25 mil imagens, exige trabalho constante para tecer o fio condutor do projeto e encontrar caminhos para sua realização. Para Moriyama, o processo é orgânico e vai naturalmente se formatando a medida do seu comprometimento. Entre desabafos e provocações, ele alerta que devemos ser mais pró ativos para agendas positivas discutindo não só os problemas, mas encaminhando soluções. Para ele ter uma ligação com o tema é fundamental, é sobre olhar pra dentro, que no final é o ponto de partida.
O começo
O fazer fotográfico é uma prática diária que aumenta nosso repertório visual. A fotografia documental é um processo solitário de construção do olhar que exige muito treino, trabalho, dedicação e disciplina. Quando vou à campo sempre volto com mais material além do previsto. Seguindo essa lógica acabei me especializando em Amazônia. Viajei muito por lá nessa dinâmica. É necessário essa inquietação para começar um trabalho autoral e o desejo de transcender o que está sendo feito e publicado. A pauta do meio ambiente fica mais em evidência quando se tem uma catástrofe, mas deveria ter uma cobertura diária porque tem vários assuntos relacionados! E como é importante ter uma produção autoral, do que só entregar pautas. Existe um buraco gigantesco. Pesquisar sobre os assuntos, conhecer a fundo as questões que permeiam, formular um pensamento crítico para fazer recortes, tudo parte do seu ponto de vista e do que te toca. Sempre fui amante da natureza, então minha ligação com a Amazônia conecta com um lugar muito profundo que eu acredito da vida, além da parte espiritual. A gente como documentarista tem que olhar para ‘aquele’ assunto e entender qual a melhor forma de contar, seja um ensaio fotográfico ou filme.
O fim
O importante é começar a produzir, sem pensar onde isso vai te levar. Tem projetos que não terminam, a gente leva para a vida. Eu acredito muito no que estou fazendo; que posso contribuir pra levantar discussões a ponto de abrir a cabeça de outras pessoas pra entender a urgência ambiental que estamos vivendo. Minha esperança continua inabalável, por mais difícil que seja, tenho muita certeza do que estou fazendo na vida. Procuro estar somando com as pessoas e tentando ressignificar a relação com a nova geração de profissionais, de apoio e mais camaradagem. A gente vai trilhando o caminho ao caminhar!
E o meio
O trabalho invisível por trás de todo o projeto, exige muito respeito, envolvimento com o tema e planejamento. O planeta está dando sinais cada vez mais fortes de que algo deu errado, que não dá pra continuar do modo que estamos vivendo. O tema vai muito além das tragédias climáticas, a gente sempre pensa em secas ou enchentes, mas tem outras camadas que precisam ser elaboradas. Existem pautas em todas as esferas, nos limites urbanos, litorâneos ou rurais e de tudo que está ao nosso redor. O recorte vai partir do seu ponto de vista e do que te toca. Estamos sempre dando uma resposta à emergência ambiental, mas não estamos trabalhando na sua prevenção. Precisamos questionar sempre e construir um pensamento pra dialogar com a pergunta que queremos responder. O desafio é o caminho; qual você escolhe? O que te move? A formulação de um pensamento autoral tem como questão central, qual história eu quero contar?