Imagem do mês ARFOC-SP: Danilo Verpa retrata crítica à contraste social
Que São Paulo é uma das maiores metrópoles do mundo não é novidade. E por trás da grandeza econômica e demográfica da cidade há cenas, não tão grandiosas assim, de desigualdades, situações de vulnerabilidades e problemas de segurança e saúde pública. Esse contraste foi retratado na fotografia de Danilo Verpa, eleita como imagem do mês da ARFOC-SP.
Ele foi pautado para fazer um ensaio da Avenida São João com a informação de que um grupo de empresários junto com a prefeitura de São Paulo pretendem transformar o famoso cruzamento com a Avenida Ipiranga em uma espécie de Broadway ou Times Square. Um investimento pesado de reestruturação total da área, construção e reforma de prédios para um novo ponto turístico.
“Antes mesmo de sair pra essa pauta saí refletindo o que eu poderia mostrar além da avenida. Uma das coisas que eu pensei antes da imagem foi o contraste entre Times Square e vida real do centro de são Paulo, como está hoje”, conta o autor da imagem do mês.
Verpa encontrou no drone a melhor opção para fazer a pauta e conseguiu autorização para subir o equipamento na Galeria do Rock.
“Achei que seria interessante eu buscar uma imagem de morador [em situação] de rua. Uma situação onde a prefeitura parece que não está muito preocupada atualmente de cuidar do centro da forma mais básica possível ao invés de fazer um projeto desse que deve custar uma grana” , reflete ele.
Ao sobrevoar com o drone, avistou um corpo e logo percebeu se tratar de um dormindo no chão quente abaixo do sol de meio-dia, com muitos pombos em volta.
“Pensei puts achei a foto que eu queria ilustrar essa matéria […]”, relembra o fotojornalista.
“Foi a imagem que eu saí da redação tentando fazer e acabei encontrando uma solução perfeita ali para mostrar um pouquinho desse contraste de querer transformar a região numa Broadway mas não cuida das pessoas que ali estão morando atualmente”, completa.
Ele revela que também fotografou outras imagens que mostravam a Avenida São João bela e simétrica, mas que acredita que a pauta exigia uma imagem capaz de levar o espectador a refletir.
“Acho que o fotojornalismo, o fotodocumentarismo têm um trabalho social, eu sempre penso em quando for sair para uma pauta, independente de pauta, sempre que eu posso eu gosto de puxar para um lado social, um lado mais crítico”, diz.
“Eu poderia muito bem subir um drone, fazer uma foto bonita da São João, voltar pra redação e ir embora que meu trabalho estava feito. Mas acho que essa não é a função de um fotojornalista, né? Acho que a gente tem sempre que ler a pauta, procurar o contexto dessa pauta e tentar trazer pro leitor uma reflexão um pouco mais abrangente”, conclui o profissional.
Para ele, é necessário primeiro cuidar e realizar ações de assistência para as pessoas em situação de rua e vulnerabilidades do entorno antes de fazer um projeto dessa magnitude.
A fotografia busca jogar luz para a falta de preocupação da prefeitura para essas questões e questionar sobre o impacto na vida das pessoas em situação de rua ou nas ocupações da região e se esse projeto com o setor privado prevê ações sociais efetivas para a melhoria do centro de São Paulo, hoje marcado por falta de limpeza e de assistência social e aumento de casos de furtos, assaltos e situações de dependência química.
“Fotojornalismo e sua função social, sua função questionadora andam muito juntas então é uma coisa que eu não gosto de separar nunca. É sempre me questionar e fazer, principalmente, as pessoas se questionarem. Olhar aquela imagem e falar: ‘peraí, o cara quer transformar numa Broadway. Como que tem gente dormindo no chão?”, diz Danilo Verpa.
Texto: Bruna Nascimento @brunalanascimento