Imagem do Mês: Registro de Fábio Tito na tragédia de São Sebastião é trabalho eleito em fevereiro
No dia 20 de fevereiro, segunda-feira de Carnaval, o repórter, cinegrafista e fotógrafo Fábio Tito achou que ia aproveitar o segundo dia de folga, após uma cobertura intensa dos desfiles das escolas de samba de São Paulo. Foi então que recebeu uma ligação do chefe do plantão no G1, veículo onde trabalha.
Após a ligação, os planos de curtir o Carnaval e fotografar o bloquinho de alguns amigos foram substituídos por atuar na cobertura da tragédia em São Sebastião, litoral Norte de São Paulo. A viagem inesperada o rendeu a foto eleita como imagem do mês de fevereiro da ARFOC-SP.
“Era minha folga, eu estava fantasiado. Eu falei para ele: ‘acabei de abrir minha primeira cerveja, mas bora'”, conta Fábio Tito.
“Um diferencial é que a gente chegou lá muito cedo, muitas equipes chegaram depois da gente. Isso se deu porque a gente entrou em contato com gente na Barra do Una que estava fazendo transporte de doações”, diz.
Com um difícil acesso de carro a São Sebastião, o motorista deixou Fábio Tito e outro repórter na Barra do Una e voltou para São Paulo. A dupla seguiu para a Barra do Sahy de barco junto com doações.
“Sem lugar para ficar, sem nada agilizado, o que estavam vendo de hospedagem para a gente não era especificamente no Sahy porque estava tudo lotado, quem estava lá não conseguia sair. A gente foi meio na cara e na coragem para chegar lá, trabalhar e se virar para dormir depois”, conta o autor da imagem do mês.
A cobertura foi bem sucedida, apesar dos desafios. A imagem eleita foi clicada três dias após a chegada na cidade. Nesse dia, ele estava encarregado pela produção e apuração, em um trabalho de mapear as vítimas fatais para um especial que narrasse a sequência dos fatos.
“A imagem estava meio de segundo plano, mas como eu acabei indo por um lado que eu não tinha ido ainda, eu estava ligado e fazendo as duas coisas. Eu fui conversando com as pessoas e pegando as informações, anotando tudo e também fui fazendo imagem”, diz o profissional.
Ao subir uma rua onde as casas tinham sido destruidas, orientado por moradores, o fotógrafo se deparou com a cena impactante registrada na imagem do mês. Segundo relatos ouvidos pelos vizinhos, as vítimas daquela casa eram um bebê de 9 meses levado dos braços da avó pela força da água e uma menina que ficou com as penas presas e precisou ter o membro quebrado ao ser socorrida.
“Para mim essa foto marcou mais ainda por ter esse relato por trás de uma família tão atingida pela violência da situação”, diz o autor da imagem.
Para o fotógrafo, o papel da imprensa em situações como essa deve ser de conscientizar a população e a administração pública para evitar novas tragédias, por meio de fiscalização, atenção às denúncias e alertas e levantamento de zonas de riscos, por exemplo.
“Acho que é primordial a gente abraçar isso como missão mesmo, buscar essa função do jornalismo de apontar os erros da administração pública. A minha esperança é que não seja sempre toda vez um negócio de ‘depois que acontecer a gente mostra’, defende ele.
Texto: Bruna Nascimento