Imagem do mês ARFOC-SP: Bob Paulino expõe e repudia violência no futebol com registro certeiro
Uma partida entre Corinthians e Cuiabá em Itaquera marcada por tensão por conta de uma má sequência do time paulista no Campeonato Brasileiro de futebol, um jogador caricato e com uma história no time rival como Deyverson e o olhar atento de Bob Paulino. Eis a fórmula que resultou na fotografia eleita como imagem do mês de junho da ARFOC-SP.
“A história dele [do Deyverson] no Palmeiras faz com que ele seja um alvo da torcida corinthiana, aí o cara vai lá e mete o gol. Um a zero pros caras, aí virou mais alvo ainda”, explica o autor da imagem.
Na partida, o jogador foi, literalmente, alvo de uma pequena tesoura dobrável, arremessada por alguém presente na torcida alvinegra. A cena, flagrada com atenção por Bob, aconteceu no momento em que Deyverson caminhou até o banco de reservas para ser substituído momentos após o gol.
“É um cara que a qualquer momento pode fazer alguma coisa muito engraçada, muito maluca. E pelo clima tenso da torcida e por ele ser um alvo, eu falei: ‘Cara deixa o jogo para lá, agora eu vou focar nesse cara'”, relembra o fotojornalista.
“Na verdade eu até esperava que ele fizesse algum gesto. Ele não fez absolutamente nada, na verdade foi super de boa e quando ele foi passando por mim, mais perto, eu resolvi fotografar mais”.
Bob Paulino conta que usou uma lente teleobjetiva e mudou a configuração da câmera para fechar ainda mais a cena no jogador, abandonando lances do jogo para confiar na intuição de que algo errado estava para acontecer. A intuição se confirmou quando Deyverson caiu diante do olhar e da lente do profissional.
“A princípio eu achei até que ele estava zoando […] Eu não vi na verdade o objeto acertando ele, eu não vi na hora, eu só percebi depois […] Estava ali naquela expectativa de que acontecesse alguma coisa, mas eu não vi alguém tacando [o objeto], eu achei que poderia acontecer mas eu não vi. Foi muito rápido, só percebi depois”, detalha Bob.
“O maluco foi que eu estava ali esperando aquela situação que realmente aconteceu, imaginando que poderia acontecer, num feeling alí de repórter fotográfico mesmo de abandonar o jogo. De repente o cara cai no chão e no mesmo momento que o cara cai no chão, sai o gol do Corinthians […] e eu ouço a torcida sair da raiva pra alegria”, completa.
Apesar de ter abandonado o lance do jogo para fotografar a caminhada de Deyverson, o autor da imagem do mês ainda conseguiu trocar de câmera e fazer duas imagens da comemoração do gol de empate corinthiano. “Estava com sorte esse dia”, afirma ele.
Mas a sorte só pode ser bem aproveitada com preparo e atenção, coisas que não faltam no trabalho de Bob Paulino. Ele revela que costuma fazer um exercício de mentalizar possíveis acontecimentos na pauta, como se fossem diferentes enredos de filmes. Outro hábito que o ajuda é ser organizado e metódico com os equipamentos de trabalho e chegar cedo no local.
“Tem que ter sorte, mas eu me preparo muito para, se eu der sorte, eu não perder a oportunidade”, afirma.
A imagem é impactante e teve grande repercussão nas redes sociais do fotojornalista, inclusive de outros profissionais do fotojornalismo, imprensa escrita e televisiva. Na postagem, o autor aproveitou para expor a insatisfação com atos violentos no esporte.
“Eu vejo que todos os repórteres fotográficos se preocupam em registrar isso, mostrar isso, e de certa forma, com seu trabalho, combater e mostrar essa indignação que todos sentem. Eu percebo que todos nós sentimos essa indignação”, diz.
Texto: Bruna Nascimento
