Imagem do Mês: Amanda Perobelli registra luta indígena e tem trabalho eleito pela terceira vez
No dia 30 de maio, antes do amanhecer, indígenas Guarani fecharam a Rodovia dos Bandeirantes, em protesto pelo PL (Projeto de Lei) 490. Sob a iluminação de pneus em chamas e faróis dos carros, a manifestação foi registrada por Amanda Perobelli em fotografia eleita como imagem do mês da ARFOC-SP.
“Não tinha amanhecido ainda, não tinha iluminação na rodovia, então a condição de luz para fotografar estava muito ruim. Os dois pontos de luz que tinha eram a iluminação gerada pelo fogo e os faróis dos carros, então estava uma situação bem difícil e lembro que fotografei muito até conseguir fotos que achei que mostrassem o protesto e a luta daquele momento e a luta dos povos indígenas”, relembra Amanda Perobelli.
Antes do fechamento da Rodovia dos Bandeirantes, a autora da imagem do mês já havia participado de outras coberturas sobre o povo indígena Guarani, protestos relacionados a outros temas e várias pautas ligadas ao projeto de lei 490, como o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) da demarcação da terra indígena do povo Xokleng, em santa Catarina.
Com essa experiência, Amanda Perobelli realizou a cobertura de mais uma pauta sobre o tema, munida do equipamento fotográfico para a luta contra desinformações sobre o PL 490.
Também conhecido como PL do marco temporal, o Projeto de Lei, aprovado pela Câmara dos Deputados, prevê alterações nas regras de demarcação de terras, e consequentemente, afetam os direitos dos povos indígenas e o meio ambiente.

Para Amanda Perobelli, as discussões sobre o projeto são complexas e o jornalismo e o fotojornalismo são importantes para levar informações para pessoas não entendem muito bem o que acontece.
“Notei isso inclusive dos próprios motoristas que ficaram ali esperando a liberação da via, que eles não sabiam o que estavam acontecendo e que não sabem o que é Projeto de lei 490. E os poucos que sabiam dava para perceber que não tinham conhecimento mais profundo do que se trata essas questões”, revela a fotojornalista.
A profissional acredita que nesses casos, principalmente os povos indígenas que estão mais próximos dos centros urbanos acabam com a falta de informação. “O povo indígena guarani ocupa hoje a menor terra indígena do brasil, em são Paulo, e acabam sendo um dos que sofrem aí com um certo escanteamento das políticas públicas”, explica ela.
“Acho que é importante a gente discutir isso, entender o que está acontecendo, entender mais a fundo, se perguntar o porquê, entender o que acontece e essas relações. Quem quer que esse projeto passe, porque que quer que passe? Quem não quer que passe porque não quer que passe? E entender por si mesmo o que está acontecendo e porque está acontecendo”, completa Amanda.
Essa é a terceira vez que um trabalho de Amanda Perobelli é eleito como imagem do Mês da ARFOC-SP. Em dezembro de 2021, um clique que mostrava o impacto das chuvas no Sul da Bahia ganhou a votação, realizada pela diretoria da Associação. Mais tarde, em novembro de 2022, o registro de um dos gols do Brasil na estreia da Copa do Mundo do Catar fez a fotojornalista ser reconhecido pela segunda vez.
“É importante para nós mulheres ocuparmos os diversos espaços e ter o trabalho reconhecido. E o mais importante de tudo é discutir não só as produções, mas discutir os temas que a gente está fotografando”, diz a ‘tricampeã’ da honraria mensal da ARFOC-SP.
“Espero que ter essa imagem do mês escolhida traga um pouco de luz ao assunto Projeto de Lei 490 e traga toda as diversas questões dos povos indígenas, as diversas dificuldades, mas principalmente a questão da demarcação e direitos indígenas. Que seja discutido, melhor entendido, que traga uma luz ao assunto e que os povos indígenas sejam ouvidos. Porque não é ‘dar voz’ aos povos indígenas, voz eles têm. É que eles sejam escutados”, conclui ela.
E por falar em escutar, se a tradição diz que três gols permitem um jogador a escolher uma música no Fantástico, porque não dar também esse direito para a craque da fotografia que foi capaz de marcar três vezes com imagens potentes e trazer importantes discussões à mesa?
A música Da Lama ao caos, de Chico Science e Nação Zumbi foi a escolhida por Amanda Perobelli.
“Muitos indígenas estavam com arco e flecha e alguns estavam com um tipo de escudo feito a mão com bambu para se proteger. Evi esse jovem indígena umas duas vezes levantar o arco e flecha dele nessa posição assim como que me pareceu ali como de um guerreiro e fui fotografar, outros fotógrafos também, não fui a única pessoa que fotografou esse indígena, acho que cada um mais ou menos da sua maneira e a princípio minha composição incluía o fogo atrás do indígena e passei a enquadrar só com a fumaça e fiz essa foto que eu achei naquele momento mais interessante.
Os indígenas fecharam a rodovia dos bandeirantes antes do amanhecer, a rodovia dos bandeirantes é uma das rodovias de principal ligação do interior e regiões Norte e Centro Oeste do estado de São Paulo à capital. Várias grandes cidades importantes do estado de São Paulo são ligadas à capital pela Bandeirantes, Campinas e uma porção de outras cidades.
E é uma rodovia muito grande, muito larga, cabem bastante carros, várias faixas de carros e então os indígenas fecharam a rodovia, essa rodovia que não tem iluminação e que é uma rodovia bem grande, bem larga. Fecharam e logo puseram fogo nos pneus que eles usaram para fechar a rodovia. Isso foi antes do amanhecer, eles fecharam a rodovia antes do amanhecer,
Quando eu fiz a foto, a princípio eu estava enquadrando o fogo também atrás do indígena, mas eu não estava gostando do resultado da foto.
Eu já cobri vários protestos e varias pautas relacionadas ao projeto e lei 490, como o julgamento no STF do caso da demarcação da terra indígena do povo xoclein lá em santa Catarina e assim, eu vejo, especificamente do povo indígena Guarani, uma maneira, eu vejo que eles são meio jogados de escanteio pelas instituições governamentais em todas as instâncias, municipal, estadual e federal, então o povo indígena guarani, que não só eles que reivindicam a parte da terra indígena, mas assim como outros povos do Brasil, lutando por essa, contra o projeto de lei.
Texto: Bruna Nascimento