Mostra apresenta retrospectiva fotográfica de Bob Wolfenson

Uma das referências nacionais quando se trata de retrato, nus e moda, Bob Wolfenson transita com a mesma destreza entre a publicidade e a arte. Ao longo de seus quase 50 anos de carreira, é responsável por alguns dos retratos mais marcantes da recente iconografia brasileira. E para comemorar sua trajetória, o fotógrafo apresenta a exposição Bob Wolfenson: Retratos, que será aberta ao público a partir do dia 23 de agosto, no Espaço Cultural Porto Seguro.

Com curadoria de Rodrigo Villela, a mostra traz diferentes aspectos de uma atividade profissional intensa, a partir de mais de 200 retratos, vários deles ainda inéditos, e convida a um singular passeio pelos costumes e protagonistas das últimas décadas de nossa história. 

Bob Wolfenson: Retratos  funde diferentes núcleos: há espaço, por exemplo, para personalidades da cultura, do esporte, da política e da moda, com fotos produzidas para editoriais ou por iniciativa do fotógrafo. Entre os retratados, nomes como Hélio Oiticica, Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Tais Araújo, Marília Gabriela, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Anitta, Ludmila, Laerte, Zé Celso, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Luiza Erundina, Eduardo Suplicy, Pelé, Ronaldo e muitos outros.

 

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Luiz Melodia, 1995 São Paulo © Bob Wolfenson

 

“Partimos de uma seleção inicial de mais de mil fotografias até chegarmos ao conjunto que apresentamos aqui na exposição. Foi um trabalho árduo, mas extremamente prazeroso”, comenta o curador. 

O mais antigo é um registro de 1973 do dramaturgo e diretor teatral José Celso Martinez Corrêa. Em um dos piores períodos do regime militar, Zé Celso estava impedido pela censura de apresentar seus espetáculos, um ano antes do exílio em Portugal. Bastante conhecido pelo experimentalismo, já era uma das referências do movimento tropicalista pela encenação de O Rei da Vela, espetáculo-manifesto escrito por Oswald Andrade. 

Um dos mais recentes foi o do também fotógrafo Sebastião Salgado: há pouco mais de um mês da abertura da mostra, Bob viajou a Paris, onde Salgado vive atualmente, especialmente para fazer o retrato. “É um fotógrafo que admiro e que sempre desejei conhecer. Fazer um retrato para a exposição foi um excelente pretexto”, brinca Bob. 

 

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Jô Soares, 2015 São Paulo © Bob Wolfenson

 

Para a escolha das imagens integrantes, Villela e Wolfenson adotaram alguns critérios. Para além da escolha de retratos emblemáticos, em que o fotógrafo trabalha e até mesmo discute a própria linguagem, também fotografias realizadas em momentos importantes para o País.

“Com um arco temporal tão extenso, podemos observar no trabalho de Bob também uma crônica de costumes, um viés possível inclusive para uma apreciação histórica”, aponta o curador.

Para além dos retratos, que se definem pelo consentimento entre as partes, a mostra traz também um conjunto de fotografias de um lado menos divulgado do fotógrafo: sua atividade de “paparazzo. São relances de figuras encontradas por acaso e que ele não poderia deixar passar, a exemplo de Charles Chaplin, Sophia Loren e Yoko Ono. 

 

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Fernanda Young, 2018 São Paulo © Bob Wolfenson

 

O RETRATO

“Fotografia não é realidade, é opinião”, afirma Bob. O fotógrafo compartilha da mesma tese de Roland Barthes, escritor e semiólogo francês, que, no livro A câmara clara, escreve:

“A foto retrato é um campo cerrado de força. Quatro imaginários aí se cruzam, aí se afrontam, aí se deformam. Diante da objetiva, sou ao mesmo tempo: aquele que eu me julgo, aquele que eu gostaria que me julgassem, aquele que o fotógrafo me julga e aquele de que ele se serve para exibir sua arte.” 

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Fernanda Montenegro, 1995 Rio de Janeiro © Bob Wolfenson

 

O segredo para um bom retrato, o fotógrafo diz desconhecer. “A imponderabilidade prevalece. Não há uma receita a seguir”, comenta. Sua única certeza é de que uma boa fotografia não é necessariamente bela, nem tampouco deve enaltecer seu personagem. “Existe uma certa magia que paira sobre o bom retrato. Algo que tem muito mais a ver com intensidade e evocação do que com beleza em si”, afirma. “Se tem algo que eu não faço é captar a suposta essência, a alma daqueles que fotografo. Todo encontro é marcado por uma conjunção de muitos fatores e, também, pelo acaso. Um bom retrato é praticamente um milagre.”

 

PARA ANOTAR NA AGENDA

Bob Wolfenson: Retratos
Local: Espaço Cultural Porto Seguro 
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 610. Campos Elíseos – São Paulo

Abertura: 23 de agosto, a partir das 19h
Período expositivo: 24 de agosto até 9 de dezembro
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h; domingos e feriados, das 10h às 17h
Entrada gratuita

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