A ARFOC-SP convocou seus associados e demais membros da nossa categoria, repórteres fotográficos e cinematográficos, para enviarem imagens das manifestações que ocorreram há dez anos atrás em diversas cidades brasileiras. Muito nos honra o material iconográfico recebido, o que nos permitiu a curadoria de uma narrativa visual que possibilita reflexões acerca daquele momento, uma vez que já possuímos um certo distanciamento histórico.
Como se evidencia nessa mostra virtual, a repressão das polícias militares por todo o país foi brutal. Uma bala de borracha estilhaçou e feriu nossa categoria ao atingir o olho esquerdo do nosso colega Sérgio Silva que até o presente momento enfrenta os tribunais após ter perdido a visão. Nossa vida está nas ruas, somos os olhos de quem não pode estar nos locais, procuramos com ética estar junto aos fatos para que mais e mais pessoas possam conhecê-los. Mesmo depois de dez anos, as polícias militares continuam a agir com truculência nas manifestações populares e também nas periferias das grandes cidades perseguindo jovens e trabalhadores.
Nosso trabalho precisa de liberdade. Olhando para essas imagens, não podemos aceitar tal repressão e também não podemos aceitar que a imprensa seja agredida com carros de TV em chamas incendiado pelos manifestantes.
As manifestações de Junho de 2013 inauguraram uma sequência de eventos que destroçou os pactos institucionais e abalou drasticamente a democracia no país. Os protestos iniciais contra o aumento da tarifa do transporte eram pacíficos, mas aos poucos, com a brutal repressão da PM, agigantaram-se. As depredações do patrimônio público passaram a ser constantes, sedes dos poderes municipal, estadual, federal, ônibus e bancos foram vandalizadas com a ação violenta de diversos grupos como por exemplo, os black blocs.
Dezessete dias se passaram para a revogação do aumento da tarifa e mesmo assim as manifestações continuaram e foram ganhando novos perfis, com outras reivindicações que não a luta contra o aumento da tarifa. Setores de direita levantaram bandeiras genéricas como o “combate à corrupção”, “mais verbas para educação e saúde” e surgiu uma onda histérica contra o Brasil sediar a Copa do Mundo e acima de tudo com um forte discurso para desacreditar o sistema político. As jornadas de junho de 2013 foram muito mais do que o cálculo premeditado de um golpe.
Aqueles eventos somados a um período de instabilidade política e econômica que se seguiu aos protestos constituíram as bases fundamentais para o entendimento da política e da sociedade brasileira atual.
Entrando numa máquina do tempo, chamamos o observador para fazer sua própria leitura do nosso conjunto de fotografias e como num fio condutor chegar aos dias atuais. Qualquer semelhança nos parece mera coincidência.
Adriana Medeiros · Ale Vianna · Alex Carvalho · André Porto · Bruno Santos · Caio Guatelli · Claudia Ferreira · Daniel Ramalho · Diogo Zanatta · Drago · Eduardo Anizelli · Enéas C. Chiarini Jr · Ennio Brauns Euler Paixão · Fábio Braga · Felipe Paiva · Flávio Florido · Flávio Gut · Guilherme Dionízio · Gustavo Basso Gustavo Scatena · Ian Maenfeld · Ig Aronovich · Inácio Teixeira · Leandro Moraes · Leo Martins · Levi Bianco · Marlene Bergamo · Maurício Maranhão · Nilton Fukuda · Paula Cinquetti · Paulo Pinto · Peter Leone Rafa Stedile · Reinaldo Meneguim · Ricardo Fernandes · Roberto Setton · Sérgio Silva · Warley Kenji
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Neste ano de 2023 as “Jornadas de Junho de 2013” irão completar 10 anos de história no Brasil. Apesar do pouco tempo em relação a outros marcos políticos, há quem considere junho de 2013 um mês que ainda não terminou e que as manifestações desse período provocaram reflexos sociais e culturais em nossa sociedade até os dias de hoje. As mobilizações nas ruas de todo o país, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, brotaram de uma pauta legítima e incontestável: contra o aumento da tarifa no transporte público.
Em muitas análises que buscam compreender o fenômeno de junho, a repressão policial tornou-se secundária diante dos seguintes acontecimentos que abalaram as estruturas políticas no Brasil: golpe parlamentar e ascensão da extrema direita. Partidos, novos agentes políticos e imprensa, todos fizeram parte do embate que tomou conta do país. No entanto, a violência policial foi determinante para que as mobilizações tomassem outros rumos e mergulhassem em um mar de narrativas daquele período.
As fotografias que tomaram conta das redes sociais, jornais (impressos e on-line), revistas e telejornais evidenciam a barbárie das ações policiais endossadas, no caso de São Paulo, pelo governo estadual vigente na ocasião. Basta nos debruçarmos sobre o ataque covarde promovido pela tropa paulista em 13 de junho de 2013 que as imagens falarão por si só. No epicentro da história, fotógrafas e fotógrafos testemunharam, dia após dia, a mais perfeita tradução das jornadas. Sob a mira de policiais, sentiram na pele a dor que a prática da violência exerce sobre corpos em movimento nas ruas. Se um de nós perdeu um olho é sinal de que todos nós perdemos. O que cabe a nós, fotógrafas é fotógrafos, ao testemunharmos a história?
A fotografia segue resistindo as mutações do tempo que caracterizam os últimos dez anos no Brasil. É, portanto, o elemento de fixação da “memória coletiva e individual” (KOSSOY, 2002) que atravessa o tempo e nos coloca frente a frente da história. Os anos de chumbo nos ensinaram que a memória coletiva é, também, uma forma de resistência contra os covardes e canalhas. Não esquecer os episódios de violência policial dentro das jornadas de junho de 2013 é uma ação de coragem. Fotografar é um ato político.
Sérgio Silva – Fotojornalista
REALIZAÇÃO
ARFOC-SP
Associação de Repórteres Fotográficos e
Cinematográficos no Estado de São Paulo
PROJEÇÃO DE ABERTURA
Bar do Beco
14 de junho de 2023
PRODUÇÃO
Toni Pires, Mônica Bento, Marcello Fim e Levi Bianco
VÍDEO DA PROJEÇÃO
Levi Bianco e Toni Pires
VÍDEO E EDIÇÃO
Gustavo Scatena
TRATAMENTO DE IMAGEM
Edson Lopes
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